quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Provérbio: "João-sem-braço"

(Lula de "joão-sem-braço")

João-sem-braço
Fonte: JB Online

Nome muito popular, João está presente em numerosas palavras e expressões de nossa língua, de que são exemplos joão-ninguém (indivíduo sem importância), joão-de-barro (pássaro), joão-correia (árvore), joão-grande (ave) e joão-teimoso (boneco feito de tal maneira que sempre volta à posição original quando empurrado). Às vezes, aparece disfarçado, como em joanete (deformação crônica de dedos do pé). Como fossem agricultores pobres e descalços a apresentar tal problema nos pés, foram tomados como joões. A denominação aproveitou ainda um termo náutico, pois joanete designa um dos mastaréus da gávea nos navios.

João-sem-braço provavelmente surgiu de comentários de homens anônimos que alegavam nada poder fazer, quando solicitados a trabalhar, disfarçando a preguiça, pois ao nobre era dado o direito de não trabalhar, de manter os braços livres para nada fazer, a não ser dar ordens para que outros fizessem todos os trabalhos, estando os simples absolutamente impedidos de fazer a mesma coisa.

Trabalhar a terra consolidou-se na herança cultural portuguesa como ignomínia, castigo imposto a quem não podia fazer mais nada, a não ser viver da lavoura.

De outra parte, os condenados tinham os braços amarrados e nada podiam fazer para evitar o suplício, fosse a forca ou a decapitação. Há ainda mais uma hipótese que vincula a expressão às Santas Casas de Misericórdia, curiosa e criativa forma que o Estado português inventou para deixar de tratar da saúde, atribuindo tal obrigação a ordens religiosas e a organizações civis, sem custos para o erário.

Como Portugal formou-se a partir de sucessivas guerras travadas em seu próprio território, eram muitos os feridos e aleijados que, por sua condição, estavam impedidos de trabalhar, os primeiros temporariamente, e os outros para o resto de suas vidas, em muitos casos. Simular não ter um ou os dois braços constituiu-se em escusa para fugir ao trabalho e a outras obrigações. Não demorou e a expressão ''dar uma de joão-sem-braço'' migrou para o rico, sutil e complexo reino da metáfora, aplicando-se a diversas situações em que a pessoa se omite, alegando razão insustentável.

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